Interrogado por Alexandre, Bolsonaro diz que não houve 'clima' para golpe
10 de junho de 2025, 18h11
Por cerca de duas horas, Jair Bolsonaro (PL) ficou frente a frente com o ministro Alexandre de Moraes, nesta terça-feira (10/6), no Supremo Tribunal Federal. O ex-presidente foi um dos interrogados pelo magistrado no inquérito que apura o golpe de Estado promovido após as eleições presidenciais de 2022.

Jair Bolsonaro prestou depoimento no Supremo nesta terça-feira
Bolsonaro, principal integrante do Núcleo 1 do golpe, ou todo o tempo negando o golpe. Segundo ele, não havia “clima”, nem “oportunidade”, para o rompimento da ordem democrática, o que autoriza o entendimento de que não foi falta de vontade o motivo para a frustração dos planos golpistas do ex-presidente e de sua turma.
Quando Alexandre perguntou se o almirante Almir Garnier, então comandante da Marinha, chegou a colocar tropas à sua disposição, Bolsonaro negou: “Em hipótese alguma. Não tinha clima, não tinha oportunidade e nem base para fazer qualquer coisa”.
O ex-presidente afirmou que fica “arrepiado quando dizem que o 8 de janeiro (de 2023, quando as sedes dos Três Poderes foram atacadas) foi um golpe”.
“Da minha parte, nunca se falou em golpe. É uma coisa abominável. Seria até fácil começar, o after day é imprevisível e danoso para todo mundo. Não foi sequer cogitada hipótese de golpe em meu governo.”
Bolsonaro jura que aceitou resignadamente a derrota para Luiz Inácio Lula Silva (PT) no pleito presidencial. “Não havia gana”, disse ele. “Tínhamos de entubar o resultado das eleições.”
GLO e minuta
Sobre as reuniões com os comandantes das Forças Armadas logo após da derrota, o político do PL confirmou ter tratado de uma garantia da lei e da ordem “porque os caminhoneiros haviam parado. Teve reunião para tratar exclusivamente desse assunto”.
“Tinha muito cuidado com a questão jurídica. Em poucas reuniões, abandonamos a possibilidade de ação constitucional.”
A respeito da chamada minuta do golpe, documento que teria sido lido e projetado em um telão para os comandantes das Forças, Bolsonaro disse ter visto “os considerandos apenas, mas a discussão sobre esse assunto já começou sem força, a ideia levantada era o estado de sítio”.
“Primeiro, tem de ter um fato (para o estado de sítio), e depois convocar os Conselhos da República, o que não foi feito. Quando falam que foi iniciado, o início é o Conselho da República, ninguém foi convocado.”
Outros interrogatórios
Antes de Bolsonaro, o Supremo ouviu o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que disse nunca ter questionado “a lisura do processo eleitoral, falei apenas de melhorias” e afirmou não ter falado “em fraude” das urnas eletrônicas.
Ao fim do governo Bolsonaro, Torres havia assumido a Secretaria de Segurança do Distrito Federal, mas na época do 8 de janeiro de 2023 tinha tirado férias. Para tirar os dias longe da Secretaria, ele disse ter deixado um protocolo de ação integrada, caso fosse necessário.
Segundo Torres, o documento era “gravoso” e com grande impacto “na vida do brasiliense”, como é feito “em poucos casos”. No entanto, a lista de ordens não foi seguida adequadamente.
Em seguida, os questionamentos foram direcionados a Augusto Heleno, ex-ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Heleno respondeu apenas as perguntas feitas pelo próprio advogado, permanecendo em silêncio durante as perguntas de Alexandre.
O ex-ministro falou nunca ter discutido “assuntos políticos” com os demais funcionários e reforçou Bolsonaro ter ficado “dentro das quatro linhas [da Constituição]”.
O general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ex-ministro da Defesa, também foi questionado nesta terça. O militar pediu desculpas por atacar a Justiça Eleitoral e negou qualquer pressão de Bolsonaro para aderir a ideias golpistas.
Por último, falou o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e que serviu como vice na chapa de Bolsonaro na eleição de 2022. Braga Netto disse que Mauro Cid “faltou com a verdade” e negou ter entregado dinheiro em sacola de vinho para o tenente-coronel.
Próximos os
Ao fim da sessão, Alexandre informou que as defesas dos réus têm cinco dias para entregar requerimentos e diligências complementares. Além disso, revogou medida que impedia réus terem contato entre si.
AP 2.668
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